Dissimulacro
Manipulamos sorrisos, forjamos alegria, fabricamos amor, escondemos frustrações, tudo pela boa imagem... Mas quando trata-se do autêntico, não há imagem que registre o que se passa.
"Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza".
- Gabriel García Marquez
Dissimulacro
Roberto acordou numa manhã de quinta, cansado pela semana puxada no escritório de contabilidade onde trabalhava. Era contador há 15 anos, e o trabalho com números não o agradava, apesar de ter certo talento com as teclas da calculadora. Sempre quis largar, mas se fingia feliz com a ascensão no emprego nos últimos anos, por isso permaneceu. Jurava a si que, um dia, iria mudar de carreira. Ficava entusiasmado com a ideia. Mas a correria de todo final de mês o fazia descer das nuvens. Levantou da cama, banhou-se e foi tomar seu café da manhã.
Entrando na cozinha, deu de cara com Judite, a faxineira de seu apartamento. Fingiu não estar com sono, enquanto Judite fingia limpar o fogão, lembrando dos tomates que esquecera de comprar no dia anterior.
- Judite, você trouxe os tomates ontem?
Judite, fingindo-se surpresa, respondeu:
- Esqueci senhor Almeida. Mas trouxe a abobrinha.
Roberto, fingindo-se de compaixão, completou:
- Pode deixar então. Eu passo no mercado a tarde, e compro.
- Obrigado senhor Almeida! Ah, sua filha ligou ontem, disse que queria falar com o senhor urgente...
- Pois é, obrigado Judite! Li o recado na geladeira. Ah, essas filhas, só sabem pedir - Argumentou Roberto, fingindo indiferença. Sabia que a menina queria um novo celular iPhone.
- Eu sei senhor... Meu filho é igualzinho! - Completou, fingindo-se complacente.
- Bom, hora de pegar no batente. Tenha um bom dia - Disse o patrão, fingindo disposição.
- Bom trabalho senhor Almeida - Respondeu a funcionária, fingindo-se animada por mais um dia de trabalho.
Saiu com seu Honda da garagem, no horário do rush. Como sempre, a via estava engarrafada. Ligou o MP3 Player na pasta New Age. Sorriu para a senhora do carro ao lado, fingindo não estar estressado pelo tráfego parado. Chegou em cima da hora na S&S Contabilidade, empresa onde, agora, detinha o cargo de Supervisor.
Entrando na recepção, recebeu um caloroso bom dia de Janete, a secretária, tentando fingir não estar de ressaca. Respondeu seco, fingindo desdém. Foi para a sua sala, ligou seu laptop e deu uma lida rápida nas notícias da web. Tinha uma reunião às nove, e Teodoro, dono da empresa, nunca tolerava atrasos.
Levantou-se de sua sala para a sala de reunião. Teodoro cumprimentou-o com um forte aperto de mão, fingindo firmeza. Herdara a empresa do pai que, por sua vez, herdara do pai que sempre dizia que Teodoro era o elo fraco da família, por sua arrogância e prepotência. Teodoro fingia que aceitava tais críticas.
- Ok, podemos começar. Vamos iniciar com uma síntese do panorama econômico para os próximos meses...
Roberto sorriu, e fingiu empolgação. Sabia tudo de cor, e não precisava estar ali. Ficou vagando durante a introdução, e na parte que Teodoro detalhava sua apresentação sobre “O Aumento Exponencial Inflacionário E Seu Impacto No Fluxo De Caixa Das Empresas De Médio Porte”, já estava em outra galáxia. Só conseguia pensar na audiência, marcada para aquela tarde, onde seria firmada a assinatura de seu divórcio com a esposa. Fingiu aceitação.
Roberto fora casado com Ana Cláudia por 12 anos. Formavam um casal realmente feliz, que nunca precisou fingir ser feliz. Apesar das diferenças, sempre se amaram. E ainda se amavam. Diziam que eram um o oposto do outro: ele metódico, ela criativa; ele caseiro, ela agitada; ele esportista, ela intelectual; ele racional, ela emocional; ele individualista, ela sociável; ele palmeirense, ela corintiana. Por 10 anos, essas diferenças pareciam se harmonizar num equilíbrio perfeito, numa sincronia que transcendia as discrepâncias, e nunca houve qualquer problema.
Entretanto, a cerca de dois anos pra cá, como se uma tempestade fizesse parte da rotina do casal, tudo desabara como num terremoto. Roberto queria sua promoção, e se doou na empresa. Fazia horas extras constantes, e chegava em casa cansado, fingindo estar exausto. Ana fingia que aceitava. Começou a também a focar no trabalho. Era fonoaudióloga. Fingia que gostava do excesso de atividades. Chegava em casa e ainda tinha todo o serviço doméstico. Fingia estar contente. Ele chegava tarde e fingia dores de cabeça. Ela, quando resgatava um resquício de disposição do marido, fingia orgasmos.
E assim foi por 2 anos, entre brigas, discussões e estadias na casa de parentes. Resolveram que o melhor caminho seria o divórcio. Roberto fingiu perplexidade. Ana, fingiu alívio. Então, por fim, decidiram e foram morar em casas separadas. Ana, por comum acordo, ficou com a guarda da filha do casal, Rafaela, que tinha 11 anos e fingia-se conformada.
- O que você acha deste tópico sobre a Taxa de Tarifação, Sr. Almeida?
Acordando do devaneio, viu que Teodoro o indagava sobre a apresentação. Levantou-se, fingindo altivez, e tomou a palavra. Em pouco mais de quarenta minutos, a reunião estava encerrada.
- Parabéns Almeida! Bela apresentação – Comentou Teodoro, fingindo admiração.
- Obrigado senhor. Este é meu trabalho! – Respondeu Roberto, fingindo humildade.
- É hoje a audiência com o juiz? – Perguntou o chefe, fingindo fraternidade.
- É sim. Já não via a hora – Assentiu Roberto.
- Pois pode tirar o dia de folga. Você merece! – Concluiu Teodoro, dando três tapinhas nas costas de Roberto, fingindo benevolência.
Saindo do escritório, Roberto rumou direto para a audiência. Seu advogado, Dr. Lacerda, o esperava em frente ao fórum. Eram amigos de infância, e a conversa com ele sempre corria informal, apesar da ocasião. Ao ver Roberto, disse:
- Você veio! Pensei que iria dar o cano de novo - Disse Lacerda, fingindo ironia.
- Que nada. Se for pra ser, que seja logo - Disse Roberto, fingindo coragem.
- Pois é, sempre assim... E eu acreditava em vocês. Mas sabe como é, a vida continua. Aliás, você precisa ver a nova estagiária lá do escritório. Coisinha do diabo...
- Pode parar, Diego. Não me interesso por suas estagiárias jovens e promíscuas - Vociferou o amigo, fingindo paciência.
- Diz isso porque ainda não a viu subindo na estante pra pegar proc...
- Que tal irmos? Estamos atrasados - Interrompeu Roberto, iniciando a caminhada, e fingindo-se calmo.
- Ok, vamos então - Concordou o amigo, fingindo-se conformado.
Entraram na sala, onde Ana e seu advogado os esperavam. Não deixou de notar como ainda era linda, e como os anos somente a deixavam mais deslumbrante. Roberto os cumprimentou, com um sorriso de canto fingindo pacificidade.
A audiência correu sem maiores impasses, ou qualquer conflito. Apenas em um momento, enquanto os advogados acertavam alguns detalhes, Ana flagrou um olhar cheio de significados de Roberto, sorrindo feito menino, que quando confrontado desviou-se, fingindo observar o lustre.
No saguão, logo na saída, despediram-se. Quando Ana virou as costas e começou a descer as escadas, ouviu Roberto chamando por seu nome. Virou-se e foi até ele.
Roberto olhou-a nos olhos, como há tempos não fazia. Queria falar que ela estava linda. Que sentia muito sua falta. Que faria algo para mudar, que viveram tantos momentos maravilhosos juntos, que ainda tinham muito o que compartilhar e aprender. Que sentia muito sua falta novamente. Que não aguentava mais ficar fingindo coisas que não eram, por motivo de razão, orgulho, autoestima, status ou convenções. Queria dizer que a amava. E que sempre a amaria.
Por fim, disse:
- Toma, comprei o novo iPhone pra Rafa. Diz que eu estou com saudades - Fingiu-se animado.
- Pode deixar Beto, falo sim. Ela sente muito sua falta. Bom, vou indo... Estou exausta! - Bocejou Ana, fingindo ter pressa.
- Bom, tenho que ir também. Tchau! - Se despediu Beto, com um aperto de mão, fingindo não estar explodindo de emoção.
- Peço pra Rafa te ligar do novo celular. Até mais! - Se despediu Ana, fingindo não se importar.
Beto voltou para seu carro. Dr. Almeida o esperava a poucos metros:
- Beto, vamos tomar um chope? Sei de um novo bar que...
Roberto o ignorou e entrou no carro, dando a partida e saiu cantando pneu. Ligou o MP3 Player na pasta Românticas. A caminho de seu apartamento, notou uma lágrima escorrendo de seu olho direito, enquanto ouvia Kiss Me. E permitiu-se chorar, no único momento realmente autêntico de seu dia.
"Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza".
- Gabriel García Marquez
Dissimulacro
Roberto acordou numa manhã de quinta, cansado pela semana puxada no escritório de contabilidade onde trabalhava. Era contador há 15 anos, e o trabalho com números não o agradava, apesar de ter certo talento com as teclas da calculadora. Sempre quis largar, mas se fingia feliz com a ascensão no emprego nos últimos anos, por isso permaneceu. Jurava a si que, um dia, iria mudar de carreira. Ficava entusiasmado com a ideia. Mas a correria de todo final de mês o fazia descer das nuvens. Levantou da cama, banhou-se e foi tomar seu café da manhã.
Entrando na cozinha, deu de cara com Judite, a faxineira de seu apartamento. Fingiu não estar com sono, enquanto Judite fingia limpar o fogão, lembrando dos tomates que esquecera de comprar no dia anterior.
- Judite, você trouxe os tomates ontem?
Judite, fingindo-se surpresa, respondeu:
- Esqueci senhor Almeida. Mas trouxe a abobrinha.
Roberto, fingindo-se de compaixão, completou:
- Pode deixar então. Eu passo no mercado a tarde, e compro.
- Obrigado senhor Almeida! Ah, sua filha ligou ontem, disse que queria falar com o senhor urgente...
- Pois é, obrigado Judite! Li o recado na geladeira. Ah, essas filhas, só sabem pedir - Argumentou Roberto, fingindo indiferença. Sabia que a menina queria um novo celular iPhone.
- Eu sei senhor... Meu filho é igualzinho! - Completou, fingindo-se complacente.
- Bom, hora de pegar no batente. Tenha um bom dia - Disse o patrão, fingindo disposição.
- Bom trabalho senhor Almeida - Respondeu a funcionária, fingindo-se animada por mais um dia de trabalho.
Saiu com seu Honda da garagem, no horário do rush. Como sempre, a via estava engarrafada. Ligou o MP3 Player na pasta New Age. Sorriu para a senhora do carro ao lado, fingindo não estar estressado pelo tráfego parado. Chegou em cima da hora na S&S Contabilidade, empresa onde, agora, detinha o cargo de Supervisor.
Entrando na recepção, recebeu um caloroso bom dia de Janete, a secretária, tentando fingir não estar de ressaca. Respondeu seco, fingindo desdém. Foi para a sua sala, ligou seu laptop e deu uma lida rápida nas notícias da web. Tinha uma reunião às nove, e Teodoro, dono da empresa, nunca tolerava atrasos.
Levantou-se de sua sala para a sala de reunião. Teodoro cumprimentou-o com um forte aperto de mão, fingindo firmeza. Herdara a empresa do pai que, por sua vez, herdara do pai que sempre dizia que Teodoro era o elo fraco da família, por sua arrogância e prepotência. Teodoro fingia que aceitava tais críticas.
- Ok, podemos começar. Vamos iniciar com uma síntese do panorama econômico para os próximos meses...
Roberto sorriu, e fingiu empolgação. Sabia tudo de cor, e não precisava estar ali. Ficou vagando durante a introdução, e na parte que Teodoro detalhava sua apresentação sobre “O Aumento Exponencial Inflacionário E Seu Impacto No Fluxo De Caixa Das Empresas De Médio Porte”, já estava em outra galáxia. Só conseguia pensar na audiência, marcada para aquela tarde, onde seria firmada a assinatura de seu divórcio com a esposa. Fingiu aceitação.
Roberto fora casado com Ana Cláudia por 12 anos. Formavam um casal realmente feliz, que nunca precisou fingir ser feliz. Apesar das diferenças, sempre se amaram. E ainda se amavam. Diziam que eram um o oposto do outro: ele metódico, ela criativa; ele caseiro, ela agitada; ele esportista, ela intelectual; ele racional, ela emocional; ele individualista, ela sociável; ele palmeirense, ela corintiana. Por 10 anos, essas diferenças pareciam se harmonizar num equilíbrio perfeito, numa sincronia que transcendia as discrepâncias, e nunca houve qualquer problema.
Entretanto, a cerca de dois anos pra cá, como se uma tempestade fizesse parte da rotina do casal, tudo desabara como num terremoto. Roberto queria sua promoção, e se doou na empresa. Fazia horas extras constantes, e chegava em casa cansado, fingindo estar exausto. Ana fingia que aceitava. Começou a também a focar no trabalho. Era fonoaudióloga. Fingia que gostava do excesso de atividades. Chegava em casa e ainda tinha todo o serviço doméstico. Fingia estar contente. Ele chegava tarde e fingia dores de cabeça. Ela, quando resgatava um resquício de disposição do marido, fingia orgasmos.
E assim foi por 2 anos, entre brigas, discussões e estadias na casa de parentes. Resolveram que o melhor caminho seria o divórcio. Roberto fingiu perplexidade. Ana, fingiu alívio. Então, por fim, decidiram e foram morar em casas separadas. Ana, por comum acordo, ficou com a guarda da filha do casal, Rafaela, que tinha 11 anos e fingia-se conformada.
- O que você acha deste tópico sobre a Taxa de Tarifação, Sr. Almeida?
Acordando do devaneio, viu que Teodoro o indagava sobre a apresentação. Levantou-se, fingindo altivez, e tomou a palavra. Em pouco mais de quarenta minutos, a reunião estava encerrada.
- Parabéns Almeida! Bela apresentação – Comentou Teodoro, fingindo admiração.
- Obrigado senhor. Este é meu trabalho! – Respondeu Roberto, fingindo humildade.
- É hoje a audiência com o juiz? – Perguntou o chefe, fingindo fraternidade.
- É sim. Já não via a hora – Assentiu Roberto.
- Pois pode tirar o dia de folga. Você merece! – Concluiu Teodoro, dando três tapinhas nas costas de Roberto, fingindo benevolência.
Saindo do escritório, Roberto rumou direto para a audiência. Seu advogado, Dr. Lacerda, o esperava em frente ao fórum. Eram amigos de infância, e a conversa com ele sempre corria informal, apesar da ocasião. Ao ver Roberto, disse:
- Você veio! Pensei que iria dar o cano de novo - Disse Lacerda, fingindo ironia.
- Que nada. Se for pra ser, que seja logo - Disse Roberto, fingindo coragem.
- Pois é, sempre assim... E eu acreditava em vocês. Mas sabe como é, a vida continua. Aliás, você precisa ver a nova estagiária lá do escritório. Coisinha do diabo...
- Pode parar, Diego. Não me interesso por suas estagiárias jovens e promíscuas - Vociferou o amigo, fingindo paciência.
- Diz isso porque ainda não a viu subindo na estante pra pegar proc...
- Que tal irmos? Estamos atrasados - Interrompeu Roberto, iniciando a caminhada, e fingindo-se calmo.
- Ok, vamos então - Concordou o amigo, fingindo-se conformado.
Entraram na sala, onde Ana e seu advogado os esperavam. Não deixou de notar como ainda era linda, e como os anos somente a deixavam mais deslumbrante. Roberto os cumprimentou, com um sorriso de canto fingindo pacificidade.
A audiência correu sem maiores impasses, ou qualquer conflito. Apenas em um momento, enquanto os advogados acertavam alguns detalhes, Ana flagrou um olhar cheio de significados de Roberto, sorrindo feito menino, que quando confrontado desviou-se, fingindo observar o lustre.
No saguão, logo na saída, despediram-se. Quando Ana virou as costas e começou a descer as escadas, ouviu Roberto chamando por seu nome. Virou-se e foi até ele.
Roberto olhou-a nos olhos, como há tempos não fazia. Queria falar que ela estava linda. Que sentia muito sua falta. Que faria algo para mudar, que viveram tantos momentos maravilhosos juntos, que ainda tinham muito o que compartilhar e aprender. Que sentia muito sua falta novamente. Que não aguentava mais ficar fingindo coisas que não eram, por motivo de razão, orgulho, autoestima, status ou convenções. Queria dizer que a amava. E que sempre a amaria.
Por fim, disse:
- Toma, comprei o novo iPhone pra Rafa. Diz que eu estou com saudades - Fingiu-se animado.
- Pode deixar Beto, falo sim. Ela sente muito sua falta. Bom, vou indo... Estou exausta! - Bocejou Ana, fingindo ter pressa.
- Bom, tenho que ir também. Tchau! - Se despediu Beto, com um aperto de mão, fingindo não estar explodindo de emoção.
- Peço pra Rafa te ligar do novo celular. Até mais! - Se despediu Ana, fingindo não se importar.
Beto voltou para seu carro. Dr. Almeida o esperava a poucos metros:
- Beto, vamos tomar um chope? Sei de um novo bar que...
Roberto o ignorou e entrou no carro, dando a partida e saiu cantando pneu. Ligou o MP3 Player na pasta Românticas. A caminho de seu apartamento, notou uma lágrima escorrendo de seu olho direito, enquanto ouvia Kiss Me. E permitiu-se chorar, no único momento realmente autêntico de seu dia.
Você precisa publicar um livro!
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirObrigado pela leitura! Mais uma vez, fiquei muito feliz pela força...
Bom, vou montando um acervo aqui, e quem sabe um dia... Confesso, seria um sonho realizado!
Grande abraço!