Realidarte

Quem nunca quis fugir da realidade, para fora dos limites que englobam as fronteiras do normal, do que é tangível, ou do que é possível? Desde tempos imemoriais, a consciência humana, em uma linha paralela à razão, se dotou da capacidade inventiva de criar, sem limites, tudo que podia ser pensado, num acervo infinito de possibilidades.

Concebida a partir do cerne da imaginação, veio a arte, em todas as suas vertentes que, através dos tempos, nos levam aos mais inesperados cenários, através dos mais diferentes personagens, nas mais sublimes ou esdrúxulas situações...  E com ela, o prazer que nos é trazido pelo abstrato de um quadro, pelo som de uma música, pelas páginas de um livro, ou pelas cenas de um filme; tudo derivado da inventividade da ficção.

E para tais criações, os mais diferentes rituais são exercidos em sua concepção... Afinal, se livrar do pensamento ordenado e racional não é tarefa fácil, e vai piorando com o tempo. Aos olhos de uma criança, tão mais livre de bloqueios racionais que limitam a criatividade, somos meros embriões taciturnos e previsíveis. Por isso, temos que enxergar com os olhos da infância, e quebrar estas barreiras, para que nossos pensamentos voem livres e atinjam a essência da criação, em sua forma mais autêntica.

Se a arte imita a vida, ou a vida imita a arte? Talvez a arte amplie a vida. Mas aí é assunto pra outro dia...

O Bêbado Poeta

Chega ao bar, já pede um trago
Derruba o drinque, fazendo estrago
Vira de um só gole
Cai de perna mole
Com suas moedas deixa pago
Sai sem dar gorjeta
Deita na sarjeta
Dorme no chão frio um sono vago

Quando ele acorda, é lua cheia
Na madrugada, são quatro e meia
Não lembra de nada
Senta na calçada
Fica em pé de súbito e bambeia
Vai até a praça
Toma uma cachaça
Logo de manhã dia clareia

Recita versos pra multidão
Passam por ele sem atenção
Aumenta o tom de voz
Senhor passa veloz
Menina muda até de direção
E na padaria
Pede uma fatia
De queijo e mortadela e põe no pão

Já anoitece e segue caminho
Pra sua casa, vive sozinho
Senta na cadeira
Acende a lareira
Anda até a mesa e pega o vinho
Solta um suspiro
Abre seu papiro
Deixa-se cair no pergaminho

Passa seus dias num carnaval
Cruza os limites do que real
Vive em devaneio
Sem nenhum receio
Da vida que lhe dizem fazer mal
E se perguntado
Por que nesse estado
Eis que se escuta em um jogral

“O que é verdade, ou ilusão
Se cada olho, uma visão?
Chamam-me de louco
Ligo nem um pouco
Fujo das correntes do padrão
Pois mente liberta
É onde desperta
E faz-se ouvir a voz do coração”.

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