O Carvalho e o Tempo

- Nas folhas que caíram
Meus galhos se despiram
E as aves sem abrigo
Que fogem do perigo
Deste campo sumiram
Me diga, velho amigo

Por que fizeste isto?

Estava satisfeito
Com o verde perfeito
Que a copa ostentava
E o vento farfalhava
Tocando com respeito
Num som que assobiava

Por que há de ser assim?

Melodia dos pardais
Sobre o toque dos urzais
Que coçavam-me a raiz
Nestas flores cor de anis
Primavera se desfaz
Mesmo assim era feliz

Por que é que existe o fim?

- Aqui me pronuncio
Eu, Tempo, não tardio
De tudo sou maestro
Regendo em manifesto
Eterno desafio
Escuto o teu protesto

Carvalho, camarada
Teu caule é só morada
Da minha eterna valsa
Que flui como uma balsa
E nunca está parada
É a vida que realça

Enxergas lá na frente?
Bem próximo a nascente?
Aquela verde muda
É planta ainda miúda
Nascida da semente
Graças a sua ajuda

E por minha gratidão
Por assim deixo-te então
Em tal muda vais morar
Vida a se perpetuar
Pois o Tempo é mera mão
Do infinito a trabalhar.

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