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Perfeitos Defeitos

Todos nós procuramos o ser perfeito, no âmago do que só nossa mente cria para satisfazer nossas expectativas e desejos... Mesmo sabendo que não existe. Porém, quando a realidade bate a nossa porta em certos momentos, é notória esta clara subjetividade: o que alguns chamam defeitos, são para outros, as mais compatíveis qualidades. Perfeitos Defeitos "Eu não acredito que ele está aqui!" Pensou consigo Lorena, assim que avistou o ex-marido, sentado em uma mesa próxima à janela, em um restaurante chique da zona sul. Estava ao lado de Thiago, o jovem promotor de vendas com quem estava tendo seu primeiro encontro após meses. Foi ela quem escolheu o local, por ser rusticamente requintado e ter boa música. Procurou uma mesa oposta, do outro lado da porta, de forma a manter um discreto contato visual, sem que o ex percebesse. "Acho que ele não me viu", pensou novamente, enquanto o maître os encaminhava até o setor. "O que ela está fazendo aqui?" ...

A Sete Chaves

Guardei bem fundo o que foi um dia A sete chaves no pensamento A sua figura e toda a alegria  Deste sorriso que em mim brotava Só pela imagem deste momento Quando ao seu lado te desejava Tranquei no breu do esquecimento Num canto escuro da minha mente O seu olhar em tão par evento Quando te via enquanto me olhava De tal beleza era complemento A minha imagem que em ti estava Joguei nas sombras do consciente Atrás das grades do devaneio A sua voz que quando contente Falava aquilo que me encantava Na melodia como um flauteio Das notas doces que declamava Prendi na cela do julgamento Tão apertado em uma corrente As mãos unidas naquele alento Enquanto o lábio que o meu tocava Fazia o tempo andar diferente Na noite fria onde ele voava Mas pro desejo não há sentença Nem pra vontade existe prisão Sempre ela foge e sua presença Martela a mente como uma clava Pois a vontade em rebelião É a liberdade que procurava.

Aquilo que Passa

Não tenha receio Do meu esforço voraz De evitar-te e que faz Parecer que é um meio De te deixar pra traz Pois é este um ato Que oculta de fato O que ainda perdura E é tal armadura Que me evita ferir Tenha preocupação Pela indagação Do porque eu voltei E então aceitei O fato de partir Pois voltando à vista É que deixo o clamor Que passaste de amor A mais uma conquista E me sinto em paz.

O Viajante

Tem certeza de que nunca está sozinho Viajante quando segue a caminhar Quando anda sem lugar para chegar Sempre enxerga a beleza do caminho Orienta-se tal qual um adivinho Sob o céu que tem prazer em contemplar Vendo estrelas que se exibem a piscar Neste flerte com o cosmo em seu moinho Vislumbrando a paisagem onde se está Viajante vai seguindo indiferente Paraíso é em qualquer lugar que vá Pois o foco é desviado só da frente Onde pisa é a melhor terra que há Pois o paraíso mora em sua mente.

Algo Leve

Que seja breve Quando a falta de uma ação For maior que a atração Que te faz aproximar Porque se atreve Quem carrega a emoção Diante da mera menção Do que quer se alcançar E então prescreve... E hoje algo leve  Que me leve pela mão E me eleve deste chão Do concreto a se pisar Pois algo leve Se releva da razão E revela a imensidão Do infinito a se voar.

Rio que Segue

Rio se forma na nascente Corre água intermitente Costurando a planície Num afago à superfície Onde o verde faz brotar Segue rio o seu trajeto Na paisagem onde objeto De beleza desigual Refletindo fulgural Céu azul a encantar Relva viva em sua margem Colorindo a imagem  Que decora a ribanceira  Onde à frente é cachoeira Água em pedra a lapidar Serpenteia a montanha Vale que antes ele banha No cantar de sua corrente Rio desbrava tão valente Seu caminho sem parar E no fim, na sua foz Rio encontra seu algoz E contempla seu final Mas de forma sem igual Natureza há de contar: O seu fim vira começo E ele volta pro seu berço - Rio agora é oceano Dança eterno e soberano Nas ondas do imenso mar.

Deixa Ser

Que a distância Entre nossos lábios - Sejamos sábios  Seja fragrância Da aversão Ou um resquício Do que se esquece Mas permanece Como do vício É a abstenção Não seja o ego Que nubla a mente E de repente Torna-te um cego Na escuridão Também orgulho Que queima frio E no vazio Só o barulho Da solidão Ou mesmo o medo Do que há por vir Quando o existir Parece azedo Como limão Pois a entrega Não é fraqueza Mas sim beleza De quem renega A própria razão.

Sobre a Paixão

Este sorriso Que sem aviso Vem estampar A minha face Já foi disfarce Da aspereza De um coração Em sua tristeza Mas hoje não A gargalhada Que vem do nada Numa conversa Nada forçada Já foi forjada Em se tentar Máscara em vão De bem se estar Só que hoje não A voz feliz Que hoje diz O que ela fala Não mais se cala Sob o verniz Do que parece Por convenção Aonde padece Nossa razão Pois ao meu lado Não me é privado Discernimento Desde o momento Qual destinado Quando te vi Na ocasião Reconhecendo O que é paixão.

O Brinde à Caminhada

Existência vem a mim como um brindar Dessa alma seu desejo saciado Pois tempo este que decerto limitado Põe limite no infinito a se explorar Nesta visita a este mundo me é dado Mil caminhos numa estrada pra trilhar E quando o que busco um destes faz privar É de súbito que escolho um outro lado Pois viver é como escrevo minha vida Dos prazeres que acumulo na bagagem Alegrias que acompanham minha ida Nas pegadas que descrevem a passagem Desde a luz que ilumina na partida À alvorada no final desta viagem.

Poesia ao Poeta

O poeta quando sofre por amor Faz-se rouxinol vivendo em cativeiro Quando encanta com seu canto o dia inteiro Enclausura-se nas asas de sua dor Na harmonia de suas notas num poleiro Melancólico é o som de seu clamor Doce melodia que tenta se opor Ao barulho que ecoa em seu viveiro E rabisca na beleza de um verso Emoção que ele oculta em seu semblante Alegria que aparece dissonante Do que na verdade nele há submerso Mas seu pensamento voa tão distante Toca estrelas no limite do universo E Ilumina-se da sombra do adverso Clareando o seu caminho adiante Acompanha-se por fim da solidão Sussurrando tão suave em sua mente Na insistência de uma voz impaciente Que escuta-se em meio à escuridão E então poeta planta sua semente: Das estrofes que germinam de sua mão Faz poesia que encena a frustração Da real decepção que ele sente. (Homenagem ao poeta Fernando Pessoa , em sua poesia Autopsicografia)

O Retrato

No fundo da gaveta O retrato guardado Ao cair da ampulheta É cor que desbota Papel é manchado Então nem se nota A imagem do amor Que a ti foi jurado Com o alto clamor De um grito voraz E ecoa o passado No amor que aqui jaz Assim como a dor Que já nem se sente É só tênue ardor De sépia memória Que surge inerente A tão bela história.

Dança do Tempo 2

Lá se vai mais uma história Feita a tinta na memória Onde o fim não satisfaz - E esta fica para traz Um eterno que termina E mais uma vez ensina Que etéreo é nosso andar - E então se vê passar Tal qual vela exposta ao vento No bailar do movimento Chama que antes ele afaga - E então esta se apaga Numa sombra de momento De uma vida em detrimento Do que de fato é viver - E então faz aprender Que o presente do agora É presente a toda hora Quando se deixa valer - Para então não se esquecer.

Dança do Tempo

Em um ciclo intermitente Nessa dança da história Vem o tempo, de repente Vai mudando a trajetória E o que era numa hora Logo após muda de forma Se aqui, já vai embora Num instante se transforma Uma órbita de fé À ação da gravidade Vem e volta da maré Volta e vem da eternidade Nessa dádiva da vida Onde manda o movimento Na tormenta da partida Na chegada com o vento Pois o mundo é uma esfera E aquele que espera Numa coisa está certo: O caminho afastado Distancia para um lado Mas por outro traz pra perto.

Sorrisos

E hoje, qual sorriso vai vestir? O normal de conformismo Ou alegre a divertir? O de canto com cinismo Que exala eufemismo Ao tentar se disfarçar? Ou o da felicidade Que aparece com vontade Quando se deixa mostrar? Pode até ser o contido Que parece escondido Quando não olharem bem Ou aquele espontâneo Que aparece instantâneo E você não se contém Gargalhada até espasmo Riso aberto de sarcasmo Ou discreto, mal se vê O sorriso é aquarela Que colore a nossa tela Desse quadro que viver.

Águas Rasas

Mergulhar de cabeça Num mar que pareça Sequer ser profundo? Pois fico com a mágoa Que enche de água A maré do meu mundo Porque levo comigo Minha fé como abrigo No nau da minha dor E após a tormenta É de certo que venta Uma brisa a favor.

Talvez

Talvez o mundo fosse mais feliz Se toda reclamação Se tornasse alguma ação Da pessoa que a diz Talvez o mundo fosse mais justo Se a sentença fosse dada Só por livres da espada Tendo o réu em alto custo Talvez o mundo fosse mais unido Se aquele que só fala No momento que se cala Aos demais desse ouvido Talvez o mundo fosse menos triste Se essa dissimulação Fosse apenas diversão Pra plateia que a assiste Talvez no mundo houvesse paz Se o arrependimento Viesse antes do momento Do mal que a pessoa faz Talvez, e é isso que proponho: Siga a voz da esperança Pra que a hora da mudança Não se faça só em sonho.

Escolhas

O som de uma escolha que ecoa na mente Retumba no altar Da alma da gente Tilinta contente perante o pesar De outra passagem Onde não vai se estar Seguindo seu leito rumando viagem Apenas à frente Juntando bagagem Da vida, escolhas são seus afluentes: Somente uma foz De tantas nascentes.

Estrela Leonina

Sorriem meus olhos só por contemplar Fulgural imagem de tal esplendor Trazendo num dia de inverno o calor Trazendo na noite de inferno o luar Sublime visão contrapõe-se a dor Cabelo dourado faz-se iluminar Qualquer canto escuro que for visitar Levando consigo sua aura onde for Feição leonina ela tende a mostrar No urro com força que guarda feroz Mas basta uma nota de tão bela voz Que toda a savana se põe a escutar Perfeição que emana de forma atroz Segurando aquele que tenta escapar Estática fica a atenção ao se olhar Tamanha o encanto que enviado a nós Brilhar da estrela de extrema grandeza Distante a mais bela vista a se notar Quando perto ofusca em sua clareza Minha vida escura se acende ao lembrar Que mesmo tão longe em sua realeza Feliz já me sinto por simples te amar.

Palco da Existência

Posso ser um, dez ou cem Cada segundo uma face Pelo que convém Um humor, um sorriso Um disfarce Até mesmo desdém Uma lágrima, um grito Um gemido que não se detém Possuo em mim todo sentimento Suando dos poros Da luz que sou feito Ou oculto nas sombras De alguém imperfeito Que ri e que chora, Que vem e vai embora, A todo momento Um ator numa cena Recorrente à vida Ora o ato é comédia, Ora a fala é contida E quando na tragédia É o pranto do aflito Que encharca as folhas Do roteiro não escrito Não me emoldure em palavras Que falam por completo Pois o mundo decerto É todo movimento Se me dizes quem sou Eis que respondo agora: “Este apenas estou, Me defina outra hora”.

A Semente

Cai em terra desolada a semente Quando brota desafia a previsão Pois regada pela chuva de verão Cresce flor sobre chão incandescente Nas raízes contra o solo da razão  Nasce vida onde vida é ausente Frágil planta forma caule resistente Cria espinhos entremeio à solidão E a flor contra toda calamidade Bem no centro do deserto cria cor Atrai vida nesta adversidade Poliniza solo seco pela dor Multiplica-se alheia a vaidade Faz-se o verde pela obra do amor.

Então

Então tudo são detalhes As cores, atalhos, entalhes Da obra completa que é Paixão que termina em dor E o amor que termina em fé Então tudo são nuances As coisas, as causas, os lances História que deixa vestígio Desejo fica enclausurado Calado em nome de prestígio Então são tudo dissonâncias Dizeres, instantes, instâncias Canção reverbera contida Nos vales por entre as montanhas Estranhas nas veias da vida Então são tudo só imagens As fotos, os fatos, mensagens Traduzem fieis o momento Do mundo quando estagnado Parado girava em movimento Então são tudo condições Motivos, motins e razões Permuta sem nunca perder Pois ego que fica egoísta Se assista afogar no prazer Então tudo são batalhas As prosas, os versos, as falhas Orgulho que nunca se fere De tanto cair do cavalo Há calo por baixo da pele E o medo latente, quando a gente sente, e então se pergunta: Como posso amar? E vem de repente, deusa sorridente, não há mais labuta: Por que não tentar?