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Mostrando postagens de 2014

Conquista

Em mais um daqueles discursos temperados a melancolia, ouso dizer que sou adepto ao tempo em que a conquista se fazia de forma sublime, num jogo de mistério, palavras e expressões, onde ambos envolvidos eram desafiados a desvendar pensamentos e pequenas disparidades fisionômicas. Hoje, pegando carona em sistemas que tornam a aproximação humana cada vez mais fácil, este evento torna-se tão efêmero quanto os relacionamentos resultantes dele. Consequência daquilo que vem fácil: este vai fácil, pois não é da natureza do ser humano dar valor à coisas que simplesmente brotam ao acaso. Talvez por isso também perde-se toda a magia daqueles instantes, na certeza de muitos momentos como este. E sua singularidade fica banalizada, quase que como uma prática padronizada e cotidiana. Corro o risco de ser taxado como antiquado. Mas sou fervoroso adepto daquele momento que soa como eterno. Onde cada segundo é decisivo, onde cada pergunta não tem resposta, onde cada ação tem um motivo, e on...

Experiência

De experiência em experiência, a todos segundo, assimilamos as mais variadas informações, e nos tornamos aquilo que somos, únicos em nossas concepções e ideais, como tijolos que constroem a morada de nossa consciência. Nesse post especial, poema de um amigo... E pela minha experiência, diz muito em poucos versos. Obrigado pela colaboração Kiko! Ela vem...Ah, como ela vem... Das noites frias, chuvosas, Nostalgia, pessoas saudosas, da alegria vivida, na tristeza sentida. Experiência! É do profundo da mente, talvez de um sonho dormente... é um sussurro sutil, que traz o arrepio. É do mundo de Platão, forjada com amor e paixão... te provoca o grito, transforma o fraco no mito, Traz a ânsia, é tua ganância! Justifica o ser, Constrói o poder, abriga o motivo... Te torna vivo! Te mata! Te move! Torna tudo e simplesmente você em quem tu és, e em quem tu serás! ...E é só uma ideia! - Luiz F. Santos

Neste Abrigo

De ciclo em ciclo, no vórtice da vida, todo começo tem seu fim a espreitar... E todo fim, a oportunidade de recomeçar. Neste Abrigo É dizimada hoje a terra em que piso  Depois de tantas batalhas travar  Mas vejo o verde que nasce a teimar  Neste chão seco ao ouvir o teu riso  E sempre em busca de um novo lugar  Na eterna estrada do “andar é preciso”  Uma pousada que vem sem aviso  Melhor abrigo onde se descansar Assim me deito em leito aconchegante  Distante brisa vem-me sussurrar  E da janela eu posso vê-la andar  Desejo que reflete em seu semblante As duas faces que tende a mostrar  Frio do luar e o sol escaldante  E a insanidade que nasce perante  Duas maneiras de se comportar Mas a vontade, ela vai mais além  Deste dilema de só ponderar  E nos motiva a deixar o desdém E me pergunto sem me censurar Estará aqui na semana que vem?  E a noite, enfim, vou parar de sonhar?

Discernimento

Sem maiores delongas, tão pessoal como a própria identidade, cada um que julgue aquilo que lhe for concebido. E que isso lhe traga seu discernimento. Discernimento Quando a dúvida permeia o discernir E a volta é o motivo de partir Eis que tudo se apresenta com clareza  Na certeza que permite a emoção A beleza é o convite da paixão Quando chega a sua vez de ponderar Mais difícil do que se deixar levar É prender-se em uma jaula de razão E já não se preocupar com a existência Elevação é o limiar da abstinência Quando a voz interna o impede de seguir No entremeio que te faça permitir Sobre um muro entre luxo e o entulho Um barulho adiante há de mostrar Que o orgulho é o mirante do pesar Quando a paz é abalada no interno E o sol queima no dia de inverno Vem o mantra a repetir-se com fervor No clamor de um tumulto que se encerra O amor é o indulto de uma guerra Quando a luz já não parece iluminar E assim não é seguro caminhar A faísca é que acende um fogo frio No pavi...

Frenesi

O ritmo de vida hoje é assim: tudo passa como flecha, e compreendemos muito pouco do que nos é disponibilizado. Cada vez mais, as horas se extinguem com tal rapidez, que o ciclo do dia é pouco para comportar o número de compromissos e afazeres que acumulamos em nossa rotina. O medo da vacância em nossa existência nos preocupa. Procuramos mais, queremos fazer tudo, seja um curso, uma viagem, uma festa, um emprego, um relacionamento, um ida ao cinema... Já que a vida é uma só, vamos à busca!  Mas como num paradoxo, ao assumirmos esse acervo de tarefas intermináveis, acabamos por não nos entregarmos a nenhuma com devida atenção. E todas atingem um segundo plano, por fazermos coisas pensando em coisas seguintes. E daí vem a insatisfação: não porque temos poucas; mas porque temos demais e somos limitados a nossa capacidade de assimilação sensorial, vivendo num ritmo frenético e pensando sempre no que há de vir. Almejamos a "chegada", em detrimento do "caminho". Pos...

Dissimulacro

Manipulamos sorrisos, forjamos alegria, fabricamos amor, escondemos frustrações, tudo pela boa imagem... Mas quando trata-se do autêntico, não há imagem que registre o que se passa.  "Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza". - Gabriel García Marquez Dissimulacro Roberto acordou numa manhã de quinta, cansado pela semana puxada no escritório de contabilidade onde trabalhava. Era contador há 15 anos, e o trabalho com números não o agradava, apesar de ter certo talento com as teclas da calculadora. Sempre quis largar, mas se fingia feliz com a ascensão no emprego nos últimos anos, por isso permaneceu. Jurava a si que, um dia, iria mudar de carreira. Ficava entusiasmado com a ideia. Mas a correria de todo final de mês o fazia descer das nuvens. Lev...

Realidarte

Quem nunca quis fugir da realidade, para fora dos limites que englobam as fronteiras do normal, do que é tangível, ou do que é possível? Desde tempos imemoriais, a consciência humana, em uma linha paralela à razão, se dotou da capacidade inventiva de criar, sem limites, tudo que podia ser pensado, num acervo infinito de possibilidades. Concebida a partir do cerne da imaginação, veio a arte, em todas as suas vertentes que, através dos tempos, nos levam aos mais inesperados cenários, através dos mais diferentes personagens, nas mais sublimes ou esdrúxulas situações...  E com ela, o prazer que nos é trazido pelo abstrato de um quadro, pelo som de uma música, pelas páginas de um livro, ou pelas cenas de um filme; tudo derivado da inventividade da ficção. E para tais criações, os mais diferentes rituais são exercidos em sua concepção... Afinal, se livrar do pensamento ordenado e racional não é tarefa fácil, e vai piorando com o tempo. Aos olhos de uma criança, tão mais livre de ...

Momentos

São todos únicos, singulares. Não se repetem. Mesmo que se queira, aquele que já foi, não será mais. Seja um gesto, uma imagem, um sussurro, uma palavra; mil delas, ou o mais absoluto silêncio. Momentos são nossas páginas escritas, arquivados em nossa memória como num guichê, onde se encontra a passagem que nos leva a uma viagem, numa odisseia de pensamentos que trazem à tona as mais variadas emoções. Estes instantes, fragmentos de nossa história, são as peça do quebra cabeça que remonta quem somos, de onde viemos, e para onde vamos. Nos dá forma. E de forma empírica, trata-se do mais importante elemento que nos define como seres humanos conscientes, num roteiro minuciosamente elaborado dentro do palco da existência. "Foi um momento O em que pousaste Sobre o meu braço, Num movimento Mais de cansaço Que pensamento, A tua mão E a retiraste. Senti ou não"? - Fernando Pessoa Alguns são inesquecíveis, insolúveis à ação dos anos; tão especiais que p...

A Lagarta Voadora

Saudações! Neste post, completa-se um mês de blog e da assiduidade que, confesso, têm surpreendido até a mim. Agradecendo a todos que por deliberação, curiosidade ou simplesmente complacência, têm acompanhado os posts. Tenho ficado feliz com o feedback, e já deu até pra ver trechos dos poemas compartilhados, coisa que é inexplicável. Um super obrigado a vocês, amigos leitores! E hoje, uma crônica que escrevi há algum tempo, o primeiro texto em prosa do blog. Pois o blog é um sonho realizado. E nossos sonhos devem mirar grandes voos... A Lagarta Voadora Nunca fui muito fã de fábulas, pois a mais remota ideia de animais falarem sempre me assustou. Leões e seus súditos, tartarugas e coelhos, formigas e gafanhotos, todos falantes, certamente é uma cena que, se caso presenciada por qualquer assíduo leitor destas histórias, o faria correr como nunca antes na vida. Pois bem, resolvi escrever esta por algum motivo nobre, que poderia transmitir alguma boa mensagem. E também, não nego, a...

Equilíbrio

De acordo com a lei fundamental do taoismo, a dualidade que compõe tudo o que existe advém de duas forças fundamentais, que se completam ao passo que se anulam: o  yin e o yang;  que não podem ser separados, e compõem o alicerce de toda a estrutura universal. Bem e mal, vida e morte, frio e quente, claro e escuro, passado e futuro, certeza e dúvida... Situações antagônicas, objetos contrários resultantes da antítese que se forma, entre outras coisas, de nosso hábito de classificar cada experiência dentro de um comparativo dinâmico e interminável. A festa legal, o amor que acaba em ódio, o filme que decepciona, a traição que machuca, a expectativa que não corresponde, a surpresa daquilo que não se esperava... Costumamos chamar de bom aquilo que, de alguma forma, nos remete à situação de satisfação, de prazer. Estes, buscamos com vigor e determinação. Já o mau, aquilo que de alguma forma nos traz sofrimento, que não nos agrada. Estes, tratamos como eventualidades, ou obrig...

Sobre o tempo

De repente, você acorda e 30 anos se passaram. Diante de seus olhos, uma vida repleta de experiências cotidianas, que culminam naquilo que te chamam de "você". Alguns bons, outros nem tanto assim. Mas nenhum irrelevante: cada segundo vivido se acumula na ampulheta da existência, e tomam forma em todas as características que montam sua personalidade única e insubstituível. "De que são feitos os dias? - De pequenos desejos, vagarosas saudades, silenciosas lembranças". - Cecília Meireles Einstein provou sua relatividade, sendo o tempo não absoluto. Nós assim o comprovamos todo dia, sem sequer termos alcançado a velocidade da luz: horas não passam iguais, e comparando aquele momento tedioso que se arrasta àqueles outros que se passam num estalar de dedos, validamos tal teoria. E o tempo do relógio e o tempo percebido não são mais os mesmos. Como o sono de horas que não se percebe. Como a dor de segundos que nunca passa. "Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver ...

É fim, é meio... É começo

Enfim, sai esse  blog! Dos planos mais adiados da história, entre tanta hesitação, aqui sua concretização. Entre tantos assuntos que podem nortear suas ideias, e deixá-lo indeciso por anos, eis que visto minhas asas e dou o céu para voarem livres. Só poesia. Só prosa. E a primeira publicação, vem com a justificativa. Criar necessita, antes de tudo, liberdade. Mas entre milhões de textos, de milhares de temas, de milhões de pessoas, essa liberdade às vezes só acaba interferindo. Assim como Ícaro, que alçou voo muito alto e perdeu as asas, a falta de linhas que limitam nossos pensamentos os deixam a míngua, inconstantes, sem sentido, te levando ao chão. E aí uma ideia boa não passa de palavras desconexas, num infinito universo de papel em branco (àqueles mais resistentes).  Então, a linha que tangencia e ordena este turbilhão de pensamentos se faz necessária: pensar no tal TEMA foi, até então, o empecilho definitivo.  Mas a reposta me veio da forma mais simples possív...